Por Lucas Bueno
Em alguns raros casos, histórias fadadas ao fracasso podem ter o final feliz. O blog mostrará a história de superação de um dos melhores humoristas atuantes no Brasil. Com personagens parodiando o presidente Lula, Serginho Mallandro, Milton Neves, Carlinhos se destaca pela sua alegria e irreverência. Porém o personagem que o levou ao sucesso não foi imitando celebridades, e sim um morador de rua, um personagem que reflete bem a realidade vivida pelo humorista. Em um dia de gravação Carlinhos se deparou com um mendigo muito engraçado. O comediante começou a imitá-lo. Assim começou a sua história de sucesso. Mas esse conto não tem só capítulos de. O início dessa trama é bem complicado.
Quem vê o sorriso no rosto de Carlos Alberto da Silva, o Mendigo, não imagina o que ele já sofreu na vida. As brincadeiras, o constante bom humor esconde um passado cheio de brutalidade, traumas, fome, frio e muita solidão.
E, superando todas as cruéis expectativas, o jovem conseguiu se esquivar da marginalidade, das drogas, da prisão e até mesmo da morte. Reescreveu sua história por intermédio do carisma e do talento de fazer rir. Quem conta um pouco da história de Carlinhos é seu amigo Vinícius Vieira, o Gluglu, companheiro de trabalho e aventuras do artista. Eles moraram juntos durante cinco anos e trabalham no Show do Tom, programa da Rede Record. Infelizmente, Carlinhos não teve o direito de ser criança, brincar de carrinho e jogar futebol com os colegas na rua. Aos 4 anos, ele fugiu da casa onde morava, em São Paulo, levado pelos irmãos mais velhos, que não aguentavam mais as constantes agressões dos pais.
Pouco tempo depois, se perdeu e ficou sem ninguém da família. Por não ter o que comer ou para onde ir, pediu esmolas e dormiu na rua. Morou na Praça da Sé, no centro da capital paulista, até ser levado para uma unidade da FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, atual Fundação Casa). "(...) Lembro que meu pai batia neles (nos irmãos) e na minha mãe. E ela batia neles e em mim. Aí eles fugiram e a gente se perdeu. (...) Tinha um monte de moleque lá e a gente se juntou. (...) Com 5 anos cheirava cola porque tirava a fome e o frio", revelou o participante do reality show na madrugada de quinta, 2, em conversa com os outros confinados.
Mendigo nos tempos que trabalha na rádio Jovem Pan
Da instituição para menores, o Mendigo foi parar em um colégio interno mantido pela prefeitura da cidade. Foi então que a história dele começou a mudar. Aos 14 anos, o rapaz chamava a atenção pelo bom comportamento e pela alegria de viver. Então, ele recebeu uma ajudinha pra lá de especial: por meio de um dos diretores da escola, Carlinhos foi apresentado a Margot Leopoldo e Silva de Carvalho, mãe do dono da Jovem Pan, Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, que o levou para trabalhar como officeboy na emissora.
"Na hora do almoço ele descia até a rádio. Deixava de comer para ver o Pânico no estúdio. E começou a conhecer o pessoal, fez amizade. O Ceará (Wellington Muniz), que na época fazia o Paulo Jalaska, percebeu que o Carlinhos tinha talento e o chamou para ajudar nas paródias toscas das músicas internacionais. Depois, como ele dava uns arrotos em público acabou virando o homem-arroto: falava a escalação da Seleção Brasileira de futebol inteira com o som que conseguia fazer com a boca (risos). Daí em diante, todo mundo conhece a história", contou Vinícius.
Pouco a pouco, com garra e talento, o artista conseguiu superar as barreiras e mudou o destino a seu favor. Consagrou-se humorista no Pânico, tanto no programa da rádio quanto na TV, onde ficou até o final de 2007, quando foi contratado pela Rede Record.
Da família, teve notícias concretas após participar do reality show, A Fazenda. Reencontrou sua irmã, sua mãe e até seu pai, que vive em uma situação deplorável nas ruas de São Paulo.
Dessas dificuldades pelas quais passou, Carlinhos tirou uma lição: ajudar o próximo. Sempre que tem festa de reencontro dos ex-internos no educandário onde residiu, ele faz questão de ir e levar os amigos. "Ele vai, joga bola com o pessoal, abraça a galera, os senhores que cuidaram dele, é muito bacana. O Carlinhos é um cara de coração grande, gente boa, leva tudo de bom humor, é um exemplo", declarou Vinicius, bastante comovido.
* Essa é uma verdadeira história de sucesso cujo protagonista não esconde e nem se envergonha da infância penosa. Carlinhos, pelo contrário, se orgulha de ter vencido as barreiras da sociedade e faz questão de se lembrar dos tempos em que sua vida poderia ser escrita em um triste diário de fracassos.